5.1.24

Melancólico

Senhor Ilídio, que veio fazer a obra, tem olhar melancólico, voz pausada, jeito fatalista que não desmereceria em noite de fado em viela da Madragoa. Vejo-o, ao fim da jornada, a arrumar as ferramentas numa caixa e a retirar as canetas de outra. Vejo-o a manuscrever poemas à socapa, como afinal todos nós, os que não proclamamos, Silêncio! que se vai escrever um poema. O homem das obras, tem obra, tenho a certeza. É é secreta, ao contrário da que por aqui andou a elaborar, que é bem notória. O essencial é invisível à vista, dizia Saint-Exupéry, a quem, decerto, não se poderia acusar de falta de visão para estas — e muitas outras — realidades.

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