No restaurante, Dona Lígia, com o desassombro de quem já viu de tudo, declara: «A queixada já se acabou». Não me desconcerta – a carne não faz parte da minha mesa, e entre migas e açordas encontro sempre abrigo. Mas ao redor, a sentença desce como uma calamidade: colheres suspensas, olhos arregalados, um sussurro grave percorre as mesas como se o Alentejo tivesse perdido uma das suas catedrais. É fascinante, penso, este poder de um prato em desaparecer, como se fosse um milagre ao contrário, deixando no ar uma sombra de desamparo. O silêncio só é quebrado quando alguém, resignado, pede a sopa de cação – a alternativa não era consolo, mas o lamento já vinha de barriga vazia.
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