24.12.24

As malhas que nos (des)unem

Estão duas ugly sweaters na mesa ao fundo do café de Senhor João – renas, flocos de neve, e aquele toque de lã sintética que arrepia não só a pele, mas também o sentido estético mais indulgente. Feias? Sem margem para dúvidas. Mas é uma fealdade deliberada, quase um pacto silencioso, como quem reivindica o direito à incongruência sem explicações desnecessárias.
No concerto clássico do passado domingo, reparei numa inovação particularmente ousada: um Pai Natal piscava o olho enquanto segurava uma cerveja – uma representação que, admitamos, capta o verdadeiro espírito de resistência da época. O proprietário, supõe-se, flutuava entre o entusiasmo sazonal e o desconforto provocado pela fibra impiedosa.
Os ugly sweaters são, no fundo, uma declaração visual: “Atreve-te a julgar-me – eu já abracei o ridículo.” São ironia tecida em lã, o equivalente tricotado de um soneto em desafinação.
Talvez sejam a única peça de roupa onde a intenção suplanta o resultado – um fenómeno que, pensando bem, define o Natal em toda a sua gloriosa incoerência.

2 comentários:

  1. What a clever reflection on the delightful absurdity of Christmas! The "ugly sweater" truly captures the spirit of embracing imperfection and the joy of celebrating without pretense. Wishing you a Merry Christmas full of humor and warmth. 🎄

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Wishing you a New Year filled not only with health and joy but also with the grace to find humor in imperfections and delight in the small absurdities of everyday life. Here’s to what lies ahead—and to the sweaters that, against all odds, become emblems of happiness. 🍷

      Eliminar