O governo, que se diz patriótico e defensor das liberdades, encontrou no luto uma oportunidade rara: suspender abril sem parecer que o faz por gosto. A morte do Papa — voz solidária com os que conhecem a opressão — caiu-lhes do céu como um pretexto piedoso para adiar a memória incómoda da liberdade. Francisco, argentino de origem e de resistência, conhecia bem o som metálico das ditaduras e talvez, se cá estivesse, marchasse connosco na avenida. Usá-lo como cortina de fumo é não só oportunismo, mas desrespeito pelo próprio espírito que se finge honrar. Abril, afinal, não foi cancelado — foi silenciado com compostura, como quem desliga o microfone ao cravo e deixa o silêncio ocupar-lhe o lugar, educado, obediente, institucional.