entre pedaços espalhados ao acaso
um jogo quase infantil de recomeçar
cada fragmento guarda um eco discreto
do que foi — mas agora é outra coisa
como folhas soltas que se tornam galho
ou pedaços de vidro que inventam luz
reconstruir é dançar com as sobras do tempo
dar-lhes forma, sem lhes pedir o passado
1.11.24
Novembro, 1
O empregado do restaurante ralha com os clientes da mesa ao lado e com razão. Então pedem uma sobremesa austríaca num restaurante italiano? Com franqueza…
30.10.24
a substância do simples
o que é simples não quebra,
não se desdobra em dualidade
permanece íntegro, indivisível
como a linha de horizonte
carrega em si o peso discreto
de existir sem hesitar
não se desdobra em dualidade
permanece íntegro, indivisível
como a linha de horizonte
carrega em si o peso discreto
de existir sem hesitar
28.10.24
ferocidade do verso
o poema aproxima-se sem aviso —
primeiro bruma, depois floresta,
arrasta-se na sombra, instinto puro
toca-me com dentes de silêncio
é um lobo de palavras famintas
que devora o espaço entre respirações
um murmúrio voraz na pele inquieta
que se aninha e me fere devagar
cedo-lhe o papel, deixo-o cair em desabrigo
sinto-o arranhar as margens do sonho
e quando, por fim, repousa ao meu lado
não sei se o dominei ou se me tornei seu
primeiro bruma, depois floresta,
arrasta-se na sombra, instinto puro
toca-me com dentes de silêncio
é um lobo de palavras famintas
que devora o espaço entre respirações
um murmúrio voraz na pele inquieta
que se aninha e me fere devagar
cedo-lhe o papel, deixo-o cair em desabrigo
sinto-o arranhar as margens do sonho
e quando, por fim, repousa ao meu lado
não sei se o dominei ou se me tornei seu
27.10.24
veias de linho
há algo de sagrado no fio que se desfaz
como se cada rasgo sussurrasse um adeus
o tecido guarda, em silêncio, as histórias
que não precisaram de voz para viver
um nó escondido, um ponto ausente
traçam a anatomia de uma perda invisível
e na fragilidade, encontra a força —
uma memória que não ousa render-se
como se cada rasgo sussurrasse um adeus
o tecido guarda, em silêncio, as histórias
que não precisaram de voz para viver
um nó escondido, um ponto ausente
traçam a anatomia de uma perda invisível
e na fragilidade, encontra a força —
uma memória que não ousa render-se