21.8.24

Veredas

Tu viajas milhares de quilómetros para chegares a terras de línguas outras, depois percorres centenas de quilómetros em caminhos bravios e esquecidos e, a seguir, dezenas de quilómetros por atalhos inóspitos que sequer estão em mapas — e o que encontras finalmente no destino, onde não há vestígio de rede de telefone e se notam apenas sinais residuais de civilização?

Compatriotas teus, à espera da desconjuntada furgoneta que os há-de levar de volta, com cara de quem já fotografou tudo o que havia para fotografar para o Instagram, e a quem só resta acabar de ler o livro que têm entre mãos, que é, não me falhe a vista agora, ‘Isto acaba aqui’, de Colleen Hoover.

10 comentários:

  1. Já fala como os futebolistas, Senhor Xilre?

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    1. Ah, UJM, receio que a minha cultura futebolística seja ainda mais diluída do que a que se refere às opções literárias dos nossos compatriotas enquanto nómadas. Fiquei curioso por saber como falam os ditos jogadores (tirando certo jogador de origem madeirense, e isso já há muito tempo, não me recordo de ter ouvido mais algum falar ) — e irei, por certo, suprir tal lacuna quando regressar a terras lusas.

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    2. Diz que não conhece nada de futebol mas, na volta, passa a vida a ouvir as intervenções dos futebolistas... Mas, vá, vou acreditar que não sabe como falam...

      Os futebolistas desconhecem que quando falam deles próprios podem usar a 1ª pessoa singular. Acho que ignoram essa possibilidade. Por exemplo, são incapazes de dizer: 'eu viajo'. Dizem sempre: 'Tu viajas'. Nunca são eles, são sempre aqueles com quem falam. Capisce, Mister X?

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    3. Ah, entendi. Parece-me então apropriado deixar aqui um poeminha de Derek Walcott, que um desses profissionais não desdenharia, decerto, dizer, num qualquer regresso a casa — ou num qualquer regresso a si mesmo:

      The time will come
      when, with elation,
      you will greet yourself arriving
      at your own door, in your own mirror,
      and each will smile at the other’s welcome.

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  2. Apesar da ironia que cai sempre bem, temos de convir: não há título que melhor se adeque. Desconheço Colleen Hoover. É alguma coisa de jeito?

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    1. Oh, sou fraco conselheiro. Eu até João Tordo já tentei ler e a coragem esvaiu-se-me entre as duas primeiras páginas.

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  3. Maldita globalização. Tudo o que é plástico vende. E chega onde nem supomos.

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    1. E nós, portugueses, sempre na linha da frente, na porta de entrada, da aldeia global.

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    1. “Ad augusta per angusta”, diriam os, sempre assertivos, romanos.

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