12.12.24
Ilusionismo labiríntico
Durante anos, tenho protelado a visita a um dos meus restaurantes favoritos, algures no coração de um labirinto em Lisboa, vítima da guerra inevitável entre a arte da gula e o desaguisado do estacionamento. «Não vale a pena», pensava eu, imaginando voltas eternas pelas ruas estreitas e um jantar arruinado pela ansiedade de encontrar o carro bloqueado. Hoje, noutro restaurante, longe dessas preocupações, ouço casualmente, vindoo da mesa ao lado, onde falavam de restaurantes e onde surge também o nome do referido acima, inatingível como um oásis: «E tem estacionamento privativo, mais acima», como se o mérito da casa fosse mais logístico do que epicuriano. Fiquei a olhar para o vazio, imóvel, como se me tivessem retirado o prato a meio da garfada. Anos de renúncia, e afinal havia um refúgio eficaz para o carro. O verdadeiro mistério da gastronomia lisboeta não está em porque é que insistem em chamar «Joaquinzinhos» aos jaquinzinhos, mas nos estacionamentos escondido à vista plena.
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