Martinho chegou tarde, como um viajante que se perdeu nas curvas do calendário, trazendo nos bolsos os últimos farrapos do inverno. O vento soprou com a impaciência de quem quer dar o derradeiro nó num tapete, arrancando o que restava das folhas secas e levando consigo o cheiro do frio entranhado nas esquinas. A chuva caiu sem pressa, como quem sabe que já não tem o mesmo peso de outrora: uma última assinatura da estação, antes que a primavera tome conta da página. Nos campos encharcados, a terra bebeu em silêncio, ciente da mudança de ciclo, indiferente à insistência de Martinho em impedir o que já se aprestava para terminar.