24.3.25

Segunda de Sísifo

Ninguém gosta verdadeiramente da segunda-feira, nem mesmo os relógios, que avançam com um certo esforço mecânico, como se também eles soubessem que estão a trair o repouso. Os filósofos gregos, se tivessem inventado a semana, teriam posto a tragédia na segunda e a comédia na sexta. Acordar neste dia é um acto de fé sem recompensa visível: o café sabe a dever, os e-mails chegam como exércitos sem causa, e o corpo, fiel a Epicuro, protesta contra a obrigação de existir produtivamente às nove da manhã.

Mas talvez o mais fascinante seja o ritual com que se finge surpresa: «Já é segunda outra vez?». Como se a repetição fosse um erro e não o próprio coração do calendário. É um dia que exige estoicismo e oferece burocracia, que simula recomeços mas serve sobretudo como lembrete do que não se fez na semana anterior. No fundo, a segunda-feira é o mito de Sísifo reencarnado em invólucro moderno: empurramos o labor pela montanha acima, sabendo que, lá para quinta, ele já estará, de novo, no rodapé da alma.