4.12.25

Fiapos de História

Quando chego, já lá estão; quando saio, ainda ficam. As obrigações de horários a eles já pouco ou nada dizem -- a mim, contudo, dizem ainda, e com que eloquência. Os participantes da tertúlia na mesa ao lado, no café de Senhor Augusto, mesa da esplanada, faça chuva ou Sol, têm conversa para toda a manhã e talvez mais, já que não sou cliente depois das horas da tarde. Apanho por vezes uns fiapos das conversas. Um deles contava, há poucas semanas, como conheceu pessoalmente John Nash, como o guiou pela Lisboa de outros tempos. Outro deles foi ovacionado, quando chegou, em dia de efeméride nacional recente, por ter aparecido nos jornais em vasta entrevista, com foto de dupla página.

Eu, confesso, vou lá pelo café, mas também pelo pastel de nata. Não fui próximo de prémios Nobel, menos ainda daqueles sobre os quais se fazem filmes, nem guiei forças militares em momentos cruciais ou sequer outros. Vou correr aqui o risco de me contradizer: eu ia lá pelo café, mas também pelo pastel de nata. Agora, vou lá pelos ditos fiapos. O pastel de nata continua a ser o melhor do bairro, o café não, mas não desmerece. Mas aqueles bocadinhos de tempo, que se escoam por entre as mesas, trazidos pela brisa da esplanada, não têm termo de comparação, são exemplares únicos. Mais perecíveis que um pastel de nata deixado ao Sol. Coisa, leitora, que eu nunca faria.

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