belas-artes

Por cima da sobrancelha direita descobri hoje, olhando com o rigor devido, que me tem faltado, uma ruga de leitura. Mais do que uma ruga, um entalhe, como se por ali tivesse passado goiva precisa, contornando a pele franzida pelo belisco da atenção. Tudo por obra dos livros que já li este ano, num afã como se o mundo se estivesse a acabar, ou antes os livros, o que chegar primeiro, melhor, que nenhuma das duas circunstâncias se faça de aparecida, que para surgimento já basta a dita carquilha. Talvez nove mil páginas até agora, em dois mil e vinte e quatro. Cada uma, extraindo, à medida que é passada, uma maravalha da minha pele. A leitura é uma das belas-artes no repertório da erosão do tempo.