26.9.24

Dos blogs

E foram as internetes, leitora, que dizimaram os blogs. Foram as internetes que roubaram o tempo de leitura às gentes que aos doze ou catorze anos descobriram que atrás de um ecrã estava um mundo que não precisava da página escrita em papel. Os que aportaram ao início da adolescência a partir do ano dois mil dificilmente se habituaram a ler naquelas longas horas que os de antes das internetes o faziam. Se não se habituaram a ler, menos ainda a escrever. Quem nasceu depois de mil novecentos e oitenta e cinco não se abalança a criar devaneios escritos. O devaneio fica-se pelas fotos das viagens às Maldivas, nas férias; ao Rio, na passagem do ano; ou ao ginásio com treinador privativo, no resto dos dias. A escrita, esse retrato interior, perdeu a batalha contra os retratos exteriores. As internetes coroaram rainha, a imagem. A palavra, deposta, partiu para o exílio.

6 comentários:

  1. Felizmente há resistentes! :)

    ResponderEliminar
  2. Restamos nós...felizmente os reféns da palavra. As imagens tudo e nada expõem, são ao mesmo tempo janela escancarada e muito engano.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E a ideia comum de que valem mil palavras, é uma das mais devastadoras falácias da actualidade…

      Eliminar
  3. As internetes, criaram uma juventude sem vocabulário, e como se escreve sem vocabulário? Talvez, por isso, o culto das imagens: do passeio, das férias, do prato com a refeição e tantas outras que até dispensaríamos.
    Mas, as mesmas internetes, permitiram os blogs, e a mim, a felicidade de poder ler coisas interessantíssimas de gente que gosta de ler, que consegue ler e ainda encontra tempo para escrever.
    Daí que ficam intimados, todos aqueles que continuando a ler, ainda escrevem, permitindo que, quem como eu, pode ler cada vez menos, use as internetes e a suas acessibilidades, para continuar a ler.
    Grata
    noname

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem as internetes não teríamos “web logs”, é bem certo. Mas trouxeram com elas o ocaso da leitura longa — qualquer jovem de quinze anos tem mais do que fazer do que ler algo com mais de dois parágrafos. E se não tem aos quinze, não tem aos vinte e sucessivamente..

      Grato eu, nn

      Eliminar