28.10.24

ferocidade do verso

o poema aproxima-se sem aviso —
primeiro bruma, depois floresta,
arrasta-se na sombra, instinto puro
toca-me com dentes de silêncio

é um lobo de palavras famintas
que devora o espaço entre respirações
um murmúrio voraz na pele inquieta
que se aninha e me fere devagar

cedo-lhe o papel, deixo-o cair em desabrigo
sinto-o arranhar as margens do sonho
e quando, por fim, repousa ao meu lado
não sei se o dominei ou se me tornei seu

4 comentários:

  1. A altura destes versos faz-me sentir anã.

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    1. Obrigado, bea — é o olhar atento que dá altura ao poema, não o inverso.

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  2. O poema corta qualquer amarra!

    Boa tarde, Xilre.

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    1. Gostei dessa leitura – a liberdade do poema reside, talvez, na sua própria ferocidade. Ao cortar amarras, desafia a ser domado mas recusa a submissão. É uma dança onde, no fim, não sabemos quem conduz.

      Noite boa, Maria Eu.

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