17.12.24

A semana antes da semana de Natal

Há uma quietude peculiar na semana antes da semana de Natal. Não é um silêncio de paz ou introspeção, mas uma espécie de suspensão inquieta, como o momento em que a água ferve mas ainda não transbordou. As ruas, demasiado iluminadas para este frio acinzentado, parecem repelir as nuvens como se o excesso de claridade pudesse compensar o vazio deixado por algo que ninguém sabe nomear.
As pessoas — apressadas, mas com a descoordenação de quem corre sem saber ao certo para onde — vagueiam entre montras que prometem «o presente ideal» e bancas de mercado que misturam recordações genéricas com descontos que ofendem a palavra «promoção». A maioria evita olhar para os outros; os sorrisos já foram gastos no início do mês, junto com a paciência, e o cansaço começa a substituir qualquer laivo de boa vontade.
Os cafés lotam-se de chávenas que aquecem mãos, mas não conversas. Os menus sazonais, com nomes extravagantes e temperos anacrónicos, oferecem conforto de conveniência — um latte com sabor a açúcar queimado que, por três euros e vinte, promete ser «a tua pausa do stress». Uma pausa que dura o tempo de uma fila para o próximo compromisso.
E no entanto, apesar de toda esta pressa, esta é uma semana interina, um interlúdio, um ensaio geral inacabado. As prendas compradas ainda não serão entregues, as árvores enfeitadas ainda não serão admiradas, e as promessas de reencontros ainda não se cumprirão. Apenas os hipermercados prosperam, com corredores ocupados por gente que carrega sacos como penitência e procura aquele item esquecido — uma travessa, talvez, ou as especiarias para o tempero que ninguém vai notar.
Por cima de tudo isto, há um coro constante que atravessa altifalantes, como se alguém tentasse criar uma unidade que já não existe. «It’s beginning to look a lot like Christmas», canta uma voz suave, enquanto as pessoas, paradas nas passadeiras ou nas filas de trânsito, ajustam os casacos e fitam o vazio.
E então, tal como veio, passa, levando consigo um peso imperceptível. Na semana seguinte, quando o ruído aumentar, todos dirão que esta era a verdadeira calma, sem nunca se lembrarem como, na verdade, era apenas um vazio com guirlandas.

4 comentários:

  1. Realizou um vazio que ainda me deu alguma luta para ler na busca de um ou outro significado (não sou especializado em cafés, nem em flores).
    Estas semanas para mim são boas - gosto de movimento - quer a anterior ao Natal, quer a seguinte: onde as pessoas vão à pressa trocar as prendas e às promoções. E depois há a preparação para o fim de ano, que também é bom. Pior, pior vai ser o grande período até à Páscoa, porque o Carnaval, passo.
    Boa tarde Xilre.

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    1. Boa tarde, Joaquim.
      Entendo esse gosto pelo movimento, quase como uma dança que só parece confusa a quem não participa. A azáfama pré-natalícia e as trocas do pós-Natal têm o seu encanto peculiar, mesmo que a melancolia do período entre o fim de ano e a Páscoa pareça inevitável. Talvez nesse intervalo haja espaço para descobrir o que fazer com a quietude — uma oportunidade para ver o que o ruído encobre. Sobre cafés e flores, não se preocupe, são só pretextos para falar do que fica por dizer.

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  2. Não sei se o Xilre sabe, mas as prendas têm um inconveniente: para que sejam nossas, há que trocá-las por dinheiro que não estica. O que penso que acontece é as pessoas andarem a procurar um presente que sabem qual seja mas não encontram ao preço módico da sua carteira.
    Quanto ao latte de não sei quê, desconheço; o mais longe que vou é até ao capuccino de que gosto demais e bebo pouquíssimo.
    Nem me lembre que pela primeira vez terei de ser eu a fazer a árvore de natal. Ó vida.
    Por acaso noto que as pessoas não estão muito contentes este ano. Pensava ser impressão minha.
    Boa noite, Xilre

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    1. Boa tarde, bea.
      Sim, as prendas exigem essa troca ingrata entre o ideal e o possível, o que torna tudo mais exaustivo do que deveria ser. Talvez por isso, o capuccino, limitado mas perfeito na sua medida, seja mais sábio do que um latte com pretensões. Fazer a árvore pela primeira vez tem o seu simbolismo — quase como escrever um verso num poema que alguém começou. E tem razão, há algo de incomodamente visível na ausência de alegria nas ruas este ano. Quem sabe se é só cansaço acumulado ou uma reflexão colectiva que ainda não sabemos articular.

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