Há uma quietude peculiar na semana antes da semana de Natal. Não é um silêncio de paz ou introspeção, mas uma espécie de suspensão inquieta, como o momento em que a água ferve mas ainda não transbordou. As ruas, demasiado iluminadas para este frio acinzentado, parecem repelir as nuvens como se o excesso de claridade pudesse compensar o vazio deixado por algo que ninguém sabe nomear.
As pessoas — apressadas, mas com a descoordenação de quem corre sem saber ao certo para onde — vagueiam entre montras que prometem «o presente ideal» e bancas de mercado que misturam recordações genéricas com descontos que ofendem a palavra «promoção». A maioria evita olhar para os outros; os sorrisos já foram gastos no início do mês, junto com a paciência, e o cansaço começa a substituir qualquer laivo de boa vontade.
Os cafés lotam-se de chávenas que aquecem mãos, mas não conversas. Os menus sazonais, com nomes extravagantes e temperos anacrónicos, oferecem conforto de conveniência — um
latte com sabor a açúcar queimado que, por três euros e vinte, promete ser «a tua pausa do stress». Uma pausa que dura o tempo de uma fila para o próximo compromisso.
E no entanto, apesar de toda esta pressa, esta é uma semana interina, um interlúdio, um ensaio geral inacabado. As prendas compradas ainda não serão entregues, as árvores enfeitadas ainda não serão admiradas, e as promessas de reencontros ainda não se cumprirão. Apenas os hipermercados prosperam, com corredores ocupados por gente que carrega sacos como penitência e procura aquele item esquecido — uma travessa, talvez, ou as especiarias para o tempero que ninguém vai notar.
Por cima de tudo isto, há um coro constante que atravessa altifalantes, como se alguém tentasse criar uma unidade que já não existe. «It’s beginning to look a lot like Christmas», canta uma voz suave, enquanto as pessoas, paradas nas passadeiras ou nas filas de trânsito, ajustam os casacos e fitam o vazio.
E então, tal como veio, passa, levando consigo um peso imperceptível. Na semana seguinte, quando o ruído aumentar, todos dirão que esta era a verdadeira calma, sem nunca se lembrarem como, na verdade, era apenas um vazio com guirlandas.