23.3.25

Woke

Eu, assumidamente woke, ainda sou do tempo em que a maior ameaça à pax occidentalis, aos olhos dos homens brancos ocidentais — entre a meia-idade e a senilidade elegante — eram as manifestações estudantis de sexta-feira à tarde contra o lobby dos combustíveis fósseis. Inspiradas por Greta Thunberg, essas marchas juvenis conseguiam provocar uma raiva viril nos escribas do mundo civilizado: da blogosfera nacional (até a resguardada em aprazíveis cidades do centro da Europa) às op-eds de conservadores fatigados no New York Times.

Não havia texto, crónica ou lamento indignado em que não se insurgissem, com a fúria ofendida de quem vê a própria autoridade abalada por uma adolescente sueca armada de cartaz e convicções. Venenosos, viciosos, mas sempre com aquela solenidade típica de quem se sente atacado no âmago — o da ordem natural das coisas.

Bons tempos, pensando bem.