13.12.22

Espíritos

Esse tem ar de ser muito bom, diz-me Menina da Caixa, no supermercado, quando eu passo com o meu licor, fruto de destilações em serras verdejantes, como a esperança de que esta chuva seja célere a amainar. Eu depois lhe darei notícias, respondo, perante o cético olhar dela, pois que é inusitado, quero acreditar, que o freguês de tais álcoois volte a falar neles na caixa, semanas depois. Não me conhece. Voltarei, pois claro, para dizer que nestes dias de ensaio de dilúvio, dito licor, consumido nas alturas precisas, me tem salvo o palato e o ânimo de se diluírem nas águas correntes, sobretudo frias. Um pequeno prazer é um grande prazer, poderia ter dito Wilde mas, que eu saiba, não disse. O licor da serra é uma bóia: quem sabe se não foi naquela serra que ancorou a arca de Noé, e a bênção por lá ficou, até ser vertida em garrafa de vidro e posterior copo de apreciador de tão formosos espíritos?

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