24.11.24
Senhor Chang e a dialética do descanso
Na penumbra da sua loja que tem tudo, entre sacos de arroz perfumado, chinelos de plástico e ferramentas de função misteriosa, Senhor Chang atravessa um paradoxo digno de Hegel: a rigidez disciplinada do confucionismo encontra-se, por fim, com a elasticidade ontológica do Alentejo. Outrora impassível perante os ponteiros do relógio, hoje entrega-se ao longo almoço alentejano como quem descobre um novo axioma. Com a porta entreaberta, o aviso improvisado — Volto já, ou talvez não — dança ao sabor da brisa quente. É então que percebemos: não se trata de preguiça, mas de uma meditação intercultural sobre o tempo, onde o relógio, como o chapéu de palha, apenas serve para marcar o intervalo da luz.
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