26.2.25

A nostalgia da inteligência perdida

Ler livros do século dezanove é uma experiência dupla: por um lado, um prazer literário, pelo outro, um exercício de humilhação. Os argumentos são construídos com paciência, as frases estendem-se como catedrais góticas, cada palavra parece escolhida por alguém que não escrevia para sobreviver, mas para pensar. As ideias, mesmo quando erradas, são erradas com método, com grandeza, com a convicção de que o mundo é um lugar digno de debate. Hoje, pelo contrário, vivemos sob o império da frivolidade, onde a complexidade é um defeito e a reflexão, um obstáculo.

Não é apenas que os textos de outrora sejam mais ricos – é que revelam um mundo que levava a inteligência a sério. Um contemporâneo de Eça era capaz de elaborar um argumento com rigor escolástico. Um romance não temia demorar cem páginas a apresentar um personagem. O leitor médio suportava orações subordinadas sem sentir tonturas. Em comparação, o presente parece um teatro de marionetas em que cada frase deve ser curta, rápida e de preferência acompanhada por um emoji. O pensamento tornou-se um produto descartável, embalado em tweets, resumos e vídeos de quinze segundos.

Claro que o século XIX tinha os seus dislates. Mas até o espatafúrdio de então era mais sofisticado do que o de agora. Havia polémicas entre filósofos, delírios metafísicos em jornais, cartas extraordinariamente eruditas sobre temas irrelevantes. Hoje, o absurdo veste-se de ignorância militante, a superficialidade é uma virtude e a leitura tornou-se um ato quase clandestino. Olhar para trás não é saudosismo – é apenas constatar que, em muitos aspetos, regredimos. E que talvez seja melhor esconder certos livros, antes que alguém descubra que já fomos capazes de melhor.