15.2.25

Da sublime arte de não fazer nada

Diz-se que a preguiça é o vício dos fracos, mas essa é uma opinião própria de quem nunca experimentou, com rigor filosófico, a excelsa arte de nada fazer. Pois não será, afinal, a contemplação do ócio uma das mais altas manifestações da inteligência? Não é o labor desmedido, pelo contrário, a prova irrefutável de uma falta de engenho? Que ninguém me venha dizer que um burocrata que passa os dias a carimbar papéis é superior a um poeta que passa as tardes deitado à sombra, ruminando versos que nunca chegarão ao papel! O primeiro desgasta-se no ruído inútil da existência, o segundo toca, ainda que levemente, o divino.

Convém, todavia, esclarecer que esta nobre arte não se confunde com a vulgar inércia dos boçais. Nada fazer exige perícia. Há que treinar o olhar para que, pousado sobre o infinito, sugira um pensamento profundo, quando na verdade se está a contar quantos pombos passam por minuto. O corpo deve permanecer imóvel, mas num equilíbrio perfeito entre languidez e altivez, como um aristocrata entediado numa soirée sem interesse. Sobretudo, há que evitar qualquer gesto que revele intenção de trabalhar, pois nada destrói mais rapidamente a ilusão de superioridade do que o ímpeto repentino de utilidade.

Dirão alguns que este estado de perfeita inoperância conduz ao marasmo e à decadência. Puro engano! O verdadeiro mestre da inactividade sabe que é no repouso absoluto que se forjam as grandes ideias — ou pelo menos se adquire o talento necessário para convencer os outros disso. Que ninguém se iluda: o mundo sempre foi governado por aqueles que souberam não se cansar. Napoleão batalhava, mas os estrategas descansavam; os servos trabalhavam, mas os reis meditavam. Por isso, honremos a tradição dos sábios e permaneçamos fiéis a este princípio eterno: quem não faz nada, dificilmente o faz mal.