1.4.25

O dia da verdade provisória

Há dias em que escrever é um risco calculado; o primeiro de Abril exige perícia adicional. Não basta evitar a mentira — é preciso evitar que a verdade pareça uma. O escritor, neste dia, pisa um campo minado onde cada frase pode ser interpretada como ironia, cada adjetivo como artifício, cada título como isco. O estilo torna-se cúmplice do engano mesmo quando a intenção é apenas, como sempre, vaguear pela ambiguidade das coisas.

Publicar uma crónica neste dia é como tentar declamar Hamlet num circo: o público espera acrobacias, não dúvidas existenciais. Qualquer tentativa de dizer algo sério será recebida com sobrancelha arqueada e risinho cínico. Já se sabe: quem escreve, hoje, ou mente com mestria ou fala com tanta verdade que ninguém acredita. O risco não está no erro, mas no acerto mal interpretado.

Por isso, o escritor cauteloso recua. Deixa as revelações para o dia seguinte e limita-se, talvez, a descrever o estado do tempo — assunto que, mesmo assim, pode ser posto em causa. Ou então, numa ousadia deliberada, escreve como sempre escreveu, com a tranquilidade de quem sabe que, no dia das mentiras, a maior subversão é dizer a verdade — com todas as letras e nenhuma esperança de ser levado a sério.