13.4.25
Proustiano
Mergulhei a madalena no café, em busca, talvez, de alguma epifania proustiana ou da aventura radical possível no centro da cidade, a um domingo de manhã. O efeito foi que a madalena sugou praticamente metade do conteúdo da chávena, que as bicas não se querem senão curtas, e só não deixou o fundo a descoberto porque eu evitei a tempo a calamidade total com mão mais rápida do que o impulso cerebral que me conduziu a tal dislate. O chá não é intercambiável com o café, pode não ser descoberta digna de um retorno a tempos perdidos, mas é a minha de hoje, está firme, e enquanto me recordar, não a irei repetir. A minha memória é menos poderosa, decerto, do que a de Proust, mas tenho a certeza de que não esqueço tão cedo tal passo em falso: a madalena não melhorou, o café, o pouco que restou, menos ainda. O único benefício foi ter arranjado tema para esta minudência inconsequente o que, bem vistas as coisas, não é irrelevante num plácido domingo como este, leitora.