De 1954 a 1968, Isabel da Nóbrega foi companheira de João Gaspar Simões. De 1970 a 1984, viveu com José Saramago. Gaspar Simões tinha sido amigo, correspondente e biógrafo de Fernando Pessoa. Ao tempo da relação com Isabel da Nóbrega, publicou a correspondência que havia mantido com Pessoa, assim como trabalhos de biografia e interpretação da obra pessoana, quer editados em livro, quer apresentados em congressos.
“O ano da morte de Ricardo Reis”, de Saramago, foi escrito e publicado durante os anos em que Saramago viveu com Isabel da Nóbrega. Já havia sido Isabel a levar Saramago a Mafra pela primeira vez e apresentar-lhe o convento — até, inicialmente, com a resistência do futuro escritor do “Memorial”.
Terá sido mera coincidência que Saramago tenha decidido criar uma obra centrada em Ricardo Reis, enquanto vivia com alguém que terá convivido quotidianamente com a vida e obra de Pessoa durante quase duas décadas?
Ironia do destino, Pilar chegou à vida de Saramago após ler “O ano da morte de Ricardo Reis”, e Saramago decidiu “matar” a memória de Isabel — nomeadamente apagando-a das dedicatórias dos livros — após a entrada de Pilar na sua vida.
Como diria Agustina, “nada é o que parece ser”. Não parece ser por acaso que no início de “O Ano da Morte de Ricardo Reis” Saramago refira o livro (fictício) “O deus do labirinto”.
No caso da história de Isabel da Nóbrega e de José Saramago (com participação convidada de João Gaspar Simões e, claro, de Pilar del Rio), quem é o deus, qual é o seu labirinto?