Há algo de heróico, quase mítico, num café junto a um health club ao sábado de manhã. Não falo da minha modesta tosta mista — que, diga-se, chegou à mesa com uma determinação que nem todos os atletas na sala pareciam ter — mas sim do espetáculo humano: um desfile de fatos de treino que prometem glórias inalcançadas e cabelos ainda gotejando, como se tivessem emergido, triunfantes, de uma batalha aquática. A humidade capilar, aliás, parece ser o novo perfume do sucesso, exalando um certo «eu estive na piscina enquanto tu estavas na cama». E eu, munido apenas de um galão e da ironia, senti-me um infiltrado nesse universo de endorfinas alheias.
Enquanto mordiscava a tosta, observei uma jovem a espreitar o menu como quem consulta uma bula médica — quase como se as calorias listadas fossem enredos de um destino trágico. Na mesa ao lado, um homem de meia-idade, com um fato de treino que dizia «Team Nike» nas costas (embora o espírito de equipa estivesse claramente ausente), dissecava o seu iogurte natural como um cirurgião hesitante. Tudo nesta cena tinha um rigor involuntariamente cómico, como se o café fosse uma extensão do health club: aqui, não se burilam músculos, mas sim resoluções de vida. E eu, pecador confesso, a saborear o meu pequeno-almoço sem qualquer remorso.
No final, paguei a conta sob os olhares vigilantes de um grupo de veteranas de zumba, todas com toalhas sobre os ombros como gladiadoras modernas. Saí para a rua com a sensação de que o meu galão havia sido uma pequena rebelião contra a austeridade nutricional da sala. Mas o mais curioso é que, enquanto atravessava a porta, ouvi uma frase de um instrutor — que ecoará pela eternidade: «É tudo uma questão de equilíbrio». Naquele momento, soube que tinha vencido: não a batalha do corpo, mas a da alma. Afinal, há mais sabedoria numa tosta do que em muitas repetições de supino.